quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

O Fim (Anderson Julio)

Quando chegou
mudou todos os dias
e trocou todas as vias.
Me deu a mão macia
e o direito de viver o sonho
que já se esvaía.

Quando chegou
não pediu licença.
ditou a sentença,
de que eu poderia,
à sua revelia,
viver o que havia
além da janela sombria.

Quando chegou
me trouxe de volta,
como que em escolta,
o verde de antes
no olhar galante...
perfeito... ungido...
Outrora exultante,
enfim,
me dei por vencido.

Quando chegou
doou carícias ternas,
prendeu minhas pernas,
e a boca navegante
se entreabriu ofegante
junto com a minha
marejada e sozinha
até sua chegada
com a pele suada
e ali ancorada.

E agora que vais
rumo ao nunca mais,
leva contigo minha alma
agora já tão calma.
Eu estarei tatuado
por dentro e por fora...
Como que se enraizado...
Depois... como agora.
Leva pela vida afora
o que um dia me deste,
sob a lua mais linda
da Praia de Leste.

( Publicada em 27/12/06)

domingo, 24 de dezembro de 2006

Sobre o Natal e o AnoNovo

Pois é...
Ontem estava pensando em como, nesta época do ano, a gente invariavelmente
se torna mais tolerante, amável, carinhoso, paciente e "gente boa".
Passamos a ter mais facilidade de digerir as dificuldades, as ausências, os imprevistos
e principalmente os "defeitos do outro".
Nessa época em que comemoramos a esperança, seja pelo nascimento do nazareno
ou pela expectativa de um ano melhor, passamos boa parte do tempo com um sorriso
estampado no rosto, e com os braços prontos para envolverem quem cruze o nosso caminho.
Pensei em como seria bom, se derepente a gente não deixasse mais esses "sentimentos de dezembro" (tolerância, amabilidade, capacidade de perdoar, paciência e bom humor)
sair de dentro de nós.
Ficaria proibido todo e qualquer tipo mau humor, estresse, impaciência e intolerância.
Os abraços seriam para sempre, beijo na boca então ... nem se fala.
Aquele vizinho "mala" seria encarado como alguem que precisa de um abraço,
e aquele outro que vc nem gosta de pronunciar o nome, seria considerado como uma
pessoa que precisa de um pouco mais de atenção e afeto.
Essa energia e paz estariam impregnando todo mundo, e aí, a vida seria muito mais fácil.
Então, está decidido: a energia "dezembrina" nunca mais sai de dentro de mim!
E eu sinceramente, desejo que neste Natal vc também radicalize e a mantenha dentro de ti.
Porque assim, "o feliz ano novo" já estará garantido.
E para sempre.
Um beijo de luz no coração de vocês!

sábado, 9 de dezembro de 2006

Thiago de Mello

Na adolescência tive a fantástica experiência de encontrar um dos meus maiores ídolos.
Frente a frente com Carlos Drummond de Andrade, ficava a me perguntar como aquele homem com jeito de bancário poderia escrever coisas tão fabulosas. E ainda tinha aquela história da pedra que estava no caminho. Foram momentos que eu não esqueci.
Ontem, eis que o destino me reservou uma outra emoção.
Quando cheguei pela manhã ao evento "Poesia Voa" no Circo Voador, eu sentia um frio no estômago. Sabia que finalmente eu encontraria um outro ídolo.
O evento realizado pelos grandes poetas Bruno Cattoni e Tavinho Paes, era parte das comemorações cariocas pelos 58 anos da Declaração dos Direitos Humanos.
Olhei o circo voador. Mesmo totalmente diferente do que era nos anos 80, ainda consegui me lembrar de momentos memoráveis que vivi ali, no palco e na plateia.
Num determinado momento Thiago de Mello chega.
Todo de branco... todo lindo... todo poesia.
Abraça parentes, amigos, fãs e numa primeira frase me diz:
- Me dê seu livro poeta, quero ver tua poesia.
- Só ano que vem poeta, o livro sai no ano que vem - respondi atônito.
Somos interrompidos por uma fã que diz ser uma emoção encontrar o "nosso poeta maior".
Thiago sorri e lhe pergunta:
- Já inventaram fita metrica para medir poetas? Como se mede poesia?Tem poeta menor?
Atende a todos com educação e atenção.
Vira-se para mim e diz:
- Pegue uma cadeira e sente-se aqui ao meu lado.
Obedeci, claro.
- Você também vai declamar seus poemas aqui hoje? - perguntou.
- Não, não, eu basicamente vim aqui por causa do senhor - respondi.
- O único senhor aqui é o senhor Jesus Cristo. Me chame de você porque nós somos é companheiros de ofício - reclamou.
Continuei obedecendo.
Falou que a sua "Barreirinha" ainda não afundou e nem foi queimada.
Contou sobre sua passagem por Cuba, e o que sentiu ao ver que o imperialismo americano não terá vez na ilha, mesmo após a partida de Fidel.
Depois, já no palco, declamou alguns de seus poemas, e encerrou sua apresentação, devidamente acompanhado ao piano pelo Duo Gismonte (formado pelas filhas de Egberto) declamando os "Estatutos do Homem".
Como a maioria ali, me emocionei e chorei muito.
Assistimos um trecho que um documentário sobre a amazônia, que tras declarações do poeta em seu recanto.
Ao fim, prometi-lhe enviar um e-mail contendo links dos meus escritos publicados na internet.
- Faça isso poeta, por favor... quero ler você... - respondeu antes de ir.

Que os Deuses da Floresta guardem por muito mais tempo este nosso poeta e pensador que segue pelo mundo todo de branco... todo lindo... todo poesia.