sexta-feira, 31 de agosto de 2007

As Tempestades

Tempestades.
Elas sempre voltam...
E assim,
me varrem os sentimentos,
os sonhos, os brios
e os cios das manhãs.

E minhas paixões,
como clãs de gente insana
arranham os vidros da janela
numa súplica singela
por uma chancela
de amor perfeito.

Mas nada resiste.
E quando os ventos se vão
restam apenas resquícios
das vontades e dos vícios.

Como moinhos emperrados
meus braços cansados
procuram os quadris,
de almas gentis, que,
com fé, malícia
e um batom vermelho
sempre me levam de volta
ao carrossel da rua...
ao panteão da lua...

(Publicado em 01/09/2007)

Poesia Morta!

Poesia morta.
Junto da porta,
restos de inspiração.

Cena sombria.
Com a covardia,
havia vodka e pão.

Caso intrigante.
Amarrada em barbante,
a vida em cinema gemia.

Mistério maldito.
O poeta que era mito,
no último bilhete dizia:

À quem interessar possa...
Essa que agora agoniza,
e que um dia me foi brisa,
tal qual as tardes na roça,
andava em tempo recente
traindo este tolo escrevente
com acordes de um violão
em baladas sem direção.

Ao ver que tão minha poesia
fugia ao fim de cada dia,
quebrei enfim minha “pena”
e ante a última cena,
deixei minha poesia secar...

Ali sozinha...
no chão da cozinha.
Se esvaindo enfim...
com sede de mim.

Círculos

Retornar...
Eis o que me aflige.
E com a velha efígie
cunhada no ontem,
caminho de encontro
ao mesmo recomeço...

Sem fim...
O perigo de voltar
hoje é meu enredo,
e o futuro cortês
já não faz segredo:
eis me aqui outra vez.

Seguir...
Numa grande reta...
sem placa, sem meta,
nem ponte, nem nada...
Ao horizonte sem seta.
Partida sem chegada.

Por fim...
Os círculos só na poeira
de uma lembrança turva.
E sem eira nem beira,
numa forasteira curva
entre uma e outra reta,
minha vida se completa.

(Publicado em 27/08/2007)

Novelo

Como um novelo
a correr pelo tapete,
vi minha alma nua
e cantada em falsete,
se perder no tempo
e orbitar na lua.

Num choro mudo
qual um vazadouro
em noite escura,
guardei sob escudo
folheado a ouro,
a minha ternura.

Até que na tarde
pintada num azul
“papel de maçã”,
chegastes em alarde
trazendo do sul
um fio de lã.

Tecendo abraços
em pontos precisos
em cada madrugada,
me destes os passos
bordados em risos...
com o fio da meada.

(Publicado em 25/08/2007)

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Fernanda

(Para Fernanda Nycia)


O Frio...
O livro...
O Licor...
Esquecida no tempo,
minha imagem em andor
ressurgiu em teus olhos
de mel...
de pedidos...
de temor...

Do sofá furta cor
tu me olhas... sozinha.
Ah... que sorte a minha:
Te encontrar
entre o mundo e a cozinha,
depois de noites em pilhas.
Meus versos tolos...
Tuas sapatilhas...
Meu sorriso puro
entre tuas virilhas...

Tua dança.
Minha mão.
Um Pacto.
Um avião.

A noite que não anda.
E o teu nome, que hoje,
fecha a rima
do poema
que escrevo
na varanda.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Rosa Chá

Já não me domino.
Nem a vida em minha volta,
nem a tarde que se solta,
nem tão pouco as horas...
Nada me obedece.

Meu lápis,
outrora passivo
e agora animado...
vai e vem sem crivo
no papel desbotado.

E eu,
que resmungava de tudo,
me pego a dançar mudo
e a sorrir na tua rua,
na esperança nua
de te ver na janela.

E você...
à espreita,
no fim da tarde perfeita
se confunde no horizonte
a despencar além do monte,
e gargalha do meu desejar.

E assim,
sem piedade de mim,
como vil e sem clemência
me revela a transparência
do teu veneno que só há
em teu vestido rosa chá.

Publicado em 12/07/2007