LITERATURA VITUAL: POESIA E SUCESSO NA REDE
Numa época em que a internet oferece ao mundo grandes dúvidas quanto aos caminhos a serem trilhados pela indústria fonográfica e pelo mercado editorial, uma avalanche de autores tem se destacado com a publicação de suas obras na rede mundial de computadores. Sem terem lançado um livro sequer, esses poetas, romancistas e letristas ocupam um espaço nunca imaginado entre os aficionados pela leitura que, por comodidade, preferem a pesquisa no computador, a uma visita a uma livraria.
Nesse novo panteão de “escritores sem livro”, podemos destacar o poeta carioca Anderson Julio, que em 2006 viu seu trabalho cair nas graças de leitores virtuais de todo país e inclusive de Portugal.
Por telefone ele conversou com a repórter Carina Santoro, ele falou da atual cena literária e sobre a sua relação com esse “universo virtual.”
Conexão Cultura: Como você avalia essa “descoberta” do seu trabalho na internet, depois de mais de 20 anos escrevendo?
Anderson Julio: (risos)...Coisas do mundo moderno... (risos). Mas antes tarde do que nunca. Na realidade eu nem tinha a intenção de me valer da internet para isso, mas no fim de 2005 vi que algumas pessoas colocavam poemas meus em suas páginas pessoais, em blogs e no orkut. Achei aquilo muito estranho, mas incentivado por alguns amigos e outros escritores, resolvi postar alguns dos meus textos na web e aí as coisas realmente começaram a acontecer.Quando vi já tinha até comunidade no orkut discutindo a minha obra...(risos).
Conexão Cultura: Como você define a atual cena literária no país?Acha que por conta da internet haverão mudanças significativas no mercado editorial como já acontece no mercado fonográfico?
Anderson Julio: Olha a cena atual é muito profícua. Tem gente de muito talento em todos os cantos do país, haja visto o que pode ser encontrado no Recanto das Letras (N.editor: Portal de internet dedicado à literatura e aos novos autores). Mas talvez o que mais seja significativo é a grande quantidade de pessoas que começam a bancar o seu sonho de editar um livro. Já existem pequenas soluções para quem quer fazer uma edição pequena com um preço razoável.Acho que na realidade isso tudo, somado à internet, e em especial os “e-books”, vão provocar uma reviravolta no mercado, mas ainda vai demorar, ao contrário do mercado fonográfico, em que a gente percebe que os cds estão com seus dias contados. Ainda há muito espaço para o livro no formato atual, ainda mais porque o brasileiro ainda lê muito pouco.
Conexão Cultura: Isso quer dizer que você pretende ignorar as editoras e partir para uma produção independente?
Anderson Julio: De maneira alguma. Estou em conversação com algumas editoras daqui e de Portugal, porém, caso nada aconteça, posso pensar na hipótese de produzir o meu primeiro livro através de algumas parcerias que me foram oferecidas.Nesse caso, o mais difícil é a questão da distribuição, um tormento para quem produz seus livros.
Conexão Cultura: Seu trabalho recebe elogios de boa parte da crítica e inclusive de alguns dos mais respeitados poetas da atualidade. O que você acha disso?
Anderson Julio: Quanto aos elogios, é o resultado da minha determinação em expor da maneira mais intensa as coisas que eu vivo, sinto e acredito.Se eles tocam as pessoas é sinal que eu fui feliz na minha empreitada. Minha poesia tem simplicidade e intensidade. E isso deve justificar as manifestações positivas. É sinal que eu consegui tocar as pessoas.Outro dia estive com o nosso grande poeta Thiago de Mello, e ele me disse: “Eu escrevo apenas poemas.Se vão achar alguma poesia neles é uma outra história.” É mais ou menos por ai! (risos)...
Conexão Cultura: Fale de seu encontro com Thiago de Mello...
Anderson Julio: Foi realmente fantástico. Eu estava no evento “Poesia Voa” no Circo Voador aqui no Rio de Janeiro. Ele me foi apresentado por amigos que temos em comum.Uma figura ímpar, que além de representar o melhor da poesia feita nas últimas décadas, é um homem de rara sensibilidade. Conversamos sobre poesia, as coisas da mata e até sobre Fidel Castro. Depois de conhecer Carlos Drummond de Andrade, este foi sem dúvida um dos mais fantásticos encontros que eu vivi.Como eu disse outro dia, Thiago de Mello é um homem que vem e vai. Todo vestido de branco, todo lindo e todo poesia.
Conexão Cultura: Você terminou um romance que está sendo aguardado com ansiedade por quem acompanha seu trabalho: Universo Paralelo. E atualmente, você já está trabalhando em um outro romance, ou anda se ocupando com crônicas e poesias? O que lhe dá mais prazer de fazer?
Anderson Julio: Não tenho uma rotina estabelecida e nem preferência.Depois de três anos dedicados ao “Universo Paralelo”, estou as voltas com a idéia de um novo romance chamado “Não Amava Ninguém”, porém, ainda é um projeto embrionário.Quanto às crônicas eu continuo escrevendo para os jornais onde ainda mantenho colunas fixas. Mas as poesias, ou melhor, os poemas (como diria Thiago de Mello) eu tenho produzido muitos, bem como as letras de músicas que algumas pessoas me pedem.No final, tudo isso me dá um enorme prazer.
Conexão Cultura: E o que você tem lido de interessante em termos de novos escritores?O que você tem lido ultimamente?
Anderson Julio: Dos livros que li recentemente posso destacar “O Ano da Seca” e “As Marés Bruxas” do romancista catalão Victor Álamo de La Rosa, que é excelente e teve o primeiro prefaciado por José Saramago. Por aqui li “Urro” e “A chuva de Ontem” de Leonardo Mendonça, sendo que o último foi lançado para o mercado latino. Na internet eu tenho visto poetas interessantíssimos que tem me agradado muito. Posso citar a Priscila Andrade e Cristina Nunes que conheci a pouco no Recanto das Letras.
Conexão Cultura: Anos a trás você disse numa entrevista que poetas quando se encontram, aprontam. Com que poetas você tem se encontrado e aprontado?
Anderson Julio: Olha que isso pode me comprometer hein? (Risos)... Eu posso dizer é que tenho conversado com gente muito interessante. Mas confesso que os meus duetos com a escritora Alma Welt tem sido divertidíssimos. Um verdadeiro “Duelo de Sonetos”.Nos encontramos na internet e trocamos comentários a respeito das obras de ambos. Depois disso, passamos a duelar empunhando versos. Uma alegria enorme para mim, pois ela é muito talentosa e bem humorada. O que nós aprontamos tem sido publicado nas páginas de ambos no Recanto das Letras.Além disso tenho trocado impressões a cerca das coisas do mundo com alguns poetas de Portugal.
Conexão Cultura: Pra terminar, o que você diria pra alguém que escreve e que quer divulgar seus escritos para o mundo?
Anderson Julio: Só tem um caminho: a internet. Diria para estas pessoas passarem seus textos para o micro e se cadastrarem nos portais de literatura, como o Autores.com, Usina das Palavras, e em especial o Recanto da Letras que disparado tem a melhor estrutura e melhor interface.Além disso, você pode ter a avaliação de outros escritores que podem te ajudar muito.
Conexão Cultura: Uma última frase para definir Anderson Julio...
Anderson Julio: Continuo com os versos de Cecília Meireles: “Não sou alegre e nem sou triste. Sou poeta!”