segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Artigo: " Entre o desbunde e o caos da vida digital "

Não consigo esquecer aquele Janeiro de 1985. Se não bastasse a ansiedade das gravações de uma "demotape" da banda na qual eu "pilotava" as baquetas, ainda havia toda a expectativa das dez noites de sonho do primeiro "Rock in Rio" que mudariam para sempre a vida de uma geração inteira.

            A banda em que eu tocava – do qual o nome já nem lembro – era absolutamente influenciada pelo som do Queen, e tanto eu quanto meus companheiros de barulho estávamos aflitos pela chegada das primeiras sessões de gravação de nossas vidas.

            Naquele tempo, um simples erro, uma perda de andamento ou uma "desafinada" comprometiam toda uma seqüencia (takes) e ainda era sinal de perda de dinheiro. Naquela época não haviam as facilidades de hoje, em que debruçados sobre "Pró-Tools", "Áudio Logics" e "Auto-Tunes" da vida, podemos corrigir em segundos, lambanças fenomenais e transformar em cantor ou músico, aquelas  criaturas sem a menor noção de afinação ou ritmo.

            O mesmo se aplicava a produção de shows. No primeiro "Rock in Rio" as catracas da entrada eram facilmente deixadas para trás. E quando isso era feito por um "comboio" de cabeludos alucinados, aí além das roletas eram arrastados também, os bilheteiros e os seguranças. Lá dentro, a iluminação de "última geração" inebriava até mesmo aos gringos, acostumados às grandes produções. Aquilo era o máximo que a tecnologia de ponta oferecia.

            Ao me deparar com as facilidades dos dias de hoje, invariavelmente me lembro daquele tempo em que eu, estudante de "computação", vibrava com os tais cartões perfurados e com a minha "formação" em linguagens como "Basic" e "Cobol".

Hoje, deitados no berço do conforto e das facilidades que a tecnologia nos trouxe, por vezes nos esquecemos que algumas práticas trouxeram sérios problemas também. Durante anos, muita gente sofreu com problemas de coluna e de visão. Os vícios posturais e os malefícios dos antigos monitores CRT fizeram muitas vítimas.

Atualmente parece que os grandes vilões são os chamados ipods ou mp3 players. De acordo com o Comitê Científico para riscos de saúde emergentes e recentemente identificados da Comissão Européia, o risco iminente de surdez para os usuários desse tipo de equipamento é enorme.

Pesquisas dão conta de que quase 10% dos usuários que escutam músicas em alto volume através destes aparelhos, podem perder definitivamente a audição, se o fizerem por mais de cinco anos. Para os estudiosos da matéria, estamos diante de uma possibilidade até então impensada: os adolescentes desta geração estarão surdos antes mesmo que seus pais.

Mas talvez, o que mais me preocupe nesses tempos de vida on line, seja o vício por tecnologia, ou o pior, a dependência da vida virtual. São milhares de pessoas que simplesmente não conseguem parar de acessar suas caixas postais a todo instante para ver se alguém mandou um recado, ou simplesmente preferem as relações virtuais em detrimento do convívio social real.

Costumo dizer a amigos, que muita gente trocou o "beijo na boca" pela tendinite, mas talvez o pior disso tudo seja perceber que não me lembro de quando pela última vez vi uma carta ser escrita à mão.

Enfim, no embalo entre o que é passado e o que é presente, os remanescentes do Queen chegam ao nosso país trazendo ao microfone, o lendário vocalista Paul Rodgers (Free/Bad Company). Um som de primeira vindo do passado. Mas acho melhor eu comprar os ingressos pela internet, porque esse negócio de bilheteria me dá uma preguiiiiiiiiça...

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