sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Viajante

Vi pegadas.

E uma após outra,

lá estava eu

a seguir tua assinatura

na terra molhada

daquela primavera doce

qual flor de cacau.

No meu espanto

ao ver

a pegada derradeira,

ergui meu olhar

ante a jardineira

de tua janela.

Você,

que ali de posse

de risada cândida,

cantava feliz

por minha alma...

lânguida,

que enfim

ancorava junto à tua.

E sem preço,

sem óbolo ou fatura,

descansei em teus véus

de doçura,

e me perdi nas curvas

que fazem de mim

um eterno viajante.



(Publicado em 04/01/2008)

As Horas

Numa noite dessas,
meu olhar aprendeu
- confesso à fórceps,
que não é que capaz
de deter as horas.

Essas doidivanas que,
em minhas primaveras
insistem em descompassar
a minha espera
por um urro aflito
do telefone.

E ante ao bule
de café adormecido
e frio,
sigo a praguejar
um amanhã vazio
ou quiçá,
uma eternidade assim.

Prazo vencido,
as esquinas
se reapresentam
como portadoras
de minhas dores
menos agudas.

E ali permaneço...
Anoiteço...
Esmoreço...
E o recomeço,
é o fingir
não lembrar
do ontem...
e tampouco
de anteontem.

--
.
.
.
Anderson Julio Lobone

Ordálio

Outra vez,
quis em vão,
me ausentar
do teu mundo.

Qual um eremita,
mergulhar no deserto
da minha alma
frágil e sem calma.

Todavia,
desta feita,
como num ordálio
previsível e sombrio,
tua voz me inundou
em ondas fatais,
e tuas mãos,
hoje calejadas,
tocaram leves...
meu sorriso
guardado em caixa
de papel crepom.

Heroína e vilã,
eis me outra vez
aos teus pés.
Rapapés à ti...
E minhas juras
de volta aqui.

Meu pedido,
em tom dolorido:
Cuide do teu refém,
ou o deixe...
à outrem.


(Publicado em 04/01/2008)