quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Mantra (Anderson Julio)

A repetir palavras
A repetir teu nome
A repetir teus gestos
A copiar teus sonhos

A dançar para ti
A cantar para a lua
A fugir de casa
A te ter em mim

A mudar de rua
A falar da vida
A sorrir sozinho
A sentir arrepio

A olhar o mar
A ser feliz aqui
A beber na fonte
A orar para o céu

A dormir mais tarde
A viver os desejos
A ser o sol que arde
A ter os teus beijos

A amanhecer assim
No que tua boca canta
e a se repetir em mim
Assim...
como um mantra.




(Publicado em 29/11/2006)

sábado, 25 de novembro de 2006

Recanto das Letras, 2 Anos!

Neste mês de novembro o portal "Recanto das Letras", o maior site dedicado a escritores da língua protuguesa completou dois anos de atividades e enorme sucesso.
Não tenho dúvidas que através do "Recanto das Letras" tive meu trabalho reconhecido por todo o Brasil, além de diversos países de ligua portugesa.
Fica aqui o meu eterno agradecimento a PatrickFlemer, criador e mantenedor do portal.
Para comemorar, a grande poetisa gaucha Denise Severgnini sugeriu a criação da ciranda "Recanto das Letras - 2º Aniversário", onde diversos poetas - membros do portal, escreveriam sobre aquele espaço de versos e inspiração.
O trabalho foi organizado e editado em forma de um e-livro pela incrível designer e poetisa Kate Weiss, hoje radicada na Alemanha.
O e-livro "Recanto das Letras - 2º Aniversário", está disponível para download no endereço http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/294005 no espaço de Kate Weiss, e vale a pena conferir.
Minha pequena contribuição nesta obra segue abaixo e encontra-se na página 25. Confira!


RECANTO (Anderson Lobone)

Meu olhar de espanto
recaiu sobre aquele canto.
Desconfiado no entanto
mergulhei no acalanto
em meus tons de riso
e semitons de pranto.
Ali me despi do manto
e minha poesia,
que era grande mas nem tanto
se coube perfeita, no recanto.


(Publicado em 25/11/2006)

domingo, 19 de novembro de 2006

Dose Final na Metrópolis: 20 Anos Depois



Hoje, segunda feira, 20 de Novembro de 2006.
Amanheço com uma certa confusão de sentimentos: Nostalgia, Melancolia, Alegria, etc.
A exatos 20 anos, eu fazia parte de uma banda de rock and roll chamada "Dose Final".
Num momento em que o rock brasileiro estava a pleno vapor, nós, procurávamos o nosso lugar ao sol, mesmo cientes de que o "hard rock" só tinha espaço no "underground" carioca.
Naquele tempo misturávamos blues, rock pesado, baladas românticas e litros de whisky.
A frente da banda eu cantava canções que falavam de sexo, drinks, diversão e medo.
Na sua guitarra "Gibson SG 73", o incrível Sammy Haua construia uma massa sonora suja e irresistível, com suas frases e riff inconfundíveis.Visceral, ele era o cérebro do Dose Final.
Na bateria, um jovem mineiro de Juiz de Fora chamado Elias El' Rock Chaim, que dotado de uma pegada fulminante, trazia toda a sua influência de Cozy Powel, Ian Paice, Eric Carr e acima de tudo de John Bonham, daí o seu apelido de "João Borrão".
Havia ainda um menino tímido e na maioria das vezes mudo... quieto. Mas o talento prodígio de Sérgio Gurgel em seu instrumento era o suficiente para dizer "quem ele era".
A banda já tinha uma pequena "legião" de seguidores, formada em grande parte por amigos, namoradas e outros malucos que apreciavam o bom som que o "Dose Final" fazia.
No dia 20 de novembro de 1986, tocamos numa das grandes casas de shows de rock da época.
A "Danceteria Metrópolis" ficava em São Conrado, e nas suas quintas feiras, abria seu espaço para as novas bandas cariocas, que se multiplicavam em cada esquina e em cada garagem.
Sabe aquela noite em que tudo pode dar certo? Pois era uma noite dessas. E mesmo com alguns problemas no som, fizemos o grande show da história - do hoje "cult", Dose Final.
O clima era tão bom que resolvemos mandar o "set list" para o espaço e também tocamos canções que havíamos combinado "não tocar de jeito nenhum".
"Noites Longas", "Diante da Loucura", "Alucinações Homogêneas", "Quem Sabe", "Desejo", "Juntos", "Noite de Rock" e outras canções das quais já nem me lembro bem, mas que eram o que chamávamos de uma overdose de rock and roll.
Seguimos juntos até meados de 1987, e depois, cada um seguiu o seu rumo.

Eu segui meu caminho mas por todos esses anos sempre lembrei muito dessa data.
Fui para o sul, e por lá fiquei durante dez anos. Voltei para o Rio e sigo tocando, compondo, escrevendo e também as voltas com a T.I.

Elias "El Rock" Chaim segue sua carreira de Engenheiro Naval, e mantem algumas atividades com a música.Depois do Dose Final esteve em diversas bandas como Vid e Sangue Azul, (gravou um LP), Silex (com quem gravou dois cds), Contra Vontade, Damas não pagam, Cláudio Gurgel, entre outros.Durante o período em que estive no sul, ele chegou a me visitar algumas vezes por força do trabalho.Atualmente está casado, tem um filho, mora no Rio de Janeiro, e está gravando material com sua nova banda: "Attude".
De vez em quando nos encontramos em shows de rock, como no Whitesnake e Judas Priest.

Sérgio Gurgel , depois de sua passagem pelo Dose Final, manteve sua participação no Silex até a gravação do primeiro CD da banda.Excelente baixista, ele esteve também tocando com Contra-vontade, além de outros nomes e bandas de rock.
Hoje tornou-se um brilhante advogado e professor, mas não mantem mais nenhuma atividade musical.Casado, pai coruja de um casal de filhos, ele mora no Rio de Janeiro, e na medida do possível temos mantido contato.

Sammy Haua - Esse grande guitarrista infelizmente, vive hoje, longe da música.
Depois do fim do Dose Final, ele ainda fez uma tentativa de remontar a banda com outros integrantes mas não deu certo.
Migrou para o Sul, morando em Curitiba,e seguindo depois para o Paraguai.
Além do talento para música, Sammy tornou-se um expert em computação, tanto em hardware como em desenvolvimento de softwares.
Em 96 quando eu fui para o sul, tive a alegria de reencontrá-lo no litoral do Paraná.
Trabalhamos juntos na área da informática, e escrevemos juntos algumas crônicas e roteiros humorísticos muito engraçados. Foi um período muito divertido, mas sem nenhum contato com música.
Nos fim dos anos 90 ele voltou ao Rio, especificamente para Cabo Frio, e hoje pelo que sei mora em Santa Tereza e trabalha no ramo de antiguidades.
Depois da minha volta ao Rio, foi o único integrante do "Dose Final" com o qual não tive contato.
Sem dúvida alguma um cara que me ensinou muuito sobre o blues e o Rock And Roll.

A gravação do show que hoje completa 20 anos anda circulando pela internet em MP3 bem como os registros do Dose Final em estúdio.
Ainda há uma comunidade no orkut sobre a banda em:
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=8907245

No meio daquela turma que acompanhava o "Dose Final" em todos os cantos em que tocávamos, havia um menino chamado "Claudinho".
Fã incondicional do "Kiss", ele sabia todas as letras e notas das canções do Dose Final.
O "Claudinho" de quem a gente tanto gostava era irmão do baixista Sérgio Gurgel.
Hoje, vinte anos depois, ele é conhecido como Cláudio Gurgel: Um dos mais talentosos guitarristas e produtores musicais que eu conheço.
É um dos meus grandes parceiros na música, está empenhado na produção do meu CD, e estará também no novo projeto de Guto Goffi, do Barão Vermelho .
Ao ver a carreira daquele "Claudinho", percebo que aquela "Dose" não era a "final"...
Ainda bem!
Um grande abraço para Sammy, Sérgio e Elias!
Long Live to Rock and Roll!!!!!!!

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Poema: Compondo Paredes (Anderson Julio)

O laço no cabelo se abriu
e o vento a brincar
cobriu-lhe o rosto...
E isto posto
o que me restou
além do franzir de testa,
foi fechar os olhos
e imaginar tudo aquilo,
que sempre aniquilo
ao lembrar
dos seus olhos de menina.

Os dias de novembro se vão
e os ventos que murmuro
não te trazem aqui.
Feliz sou eu
que não te tenho,
pois meu querer ferrenho
não te protegeria de mim.

Mantenha-se longe
E o mais distante que possas...
Para que as vontades nossas
possam se esvair enfim.

Em mim,
essa vontade absurda
de viver o que não posso.
E esse desejo que destroço,
se recompõe,
a cada manhã,
a cada canção,
e a cada brisa.

Nesse ofício de poeta,
Ou do cantor de cada tarde,
eu calo a vida que arde...
E vivo... compondo paredes
para te deixar assim...
providencialmente...
longe de mim.


(Publicado em 16/11/2006)

domingo, 12 de novembro de 2006

Poema: Os Amores Que Enfrento (Anderson Julio)

De manhã quando acordo
vejo o quanto transbordo
em todo o meu sentir.

Meu coração passivo
por que não dizer lascivo
mostra o que está por vir.

Amores torrenciais
em uma tarde a mais
como chuvas em mim.

Bocas com ardor
e olhos multicor
nas estórias sem fim.

Enfrento um amor...
um amor antigo
e rente ao perigo
me dou por inteiro,
a esse primeiro.

Enfrento um amor...
que fala em dinheiro...
e que me olha no fundo.
Então me entrego,
a esse segundo.

Enfrento um amor...
que é quase infantil,
e minha mão vil
escreve um roteiro
preciso e certeiro,
e então... me atiro,
a esse terceiro.

Os amores que enfrento
não irão me vencer
pois num dado momento
hão de me esquecer.

Os amores que enfrento
me servem de escudo
me servem de alento
a cada amanhacer... mudo.


(Publicado em 12/11/2006)

sábado, 11 de novembro de 2006

Um novo poeta por favor



Atendendo aos pedidos dos leitores, inclusive os quarentões, publico abaixo a premiada crônica "Um novo poeta por favor!", que escrevi no início de 2005 e que obteve uma grande repercussão aqui na web.

"Um novo poeta por favor!" - Anderson Julio

Sábado passado estive em Vicente de carvalho, bairro do subúrbio carioca onde dizem os especialistas, encontra-se o melhor bolinho de bacalhau do Rio de Janeiro.
Lá estava eu, naquela conhecida adega lusitana que por tradição concentra boêmios de todas as partes da cidade, e traz consigo um clima que une a malemolência do samba e os lamentos do fado.
Numa conversa pra lá de etílica com meu primo Ricardo Julio, me deparo com a conclusão aterradora sobre a ausência de grandes letristas e poetas para a nossa geração pré-quarentona, após as perdas de Renato Russo e Cazuza.
Ricardo inclui neste hall, o "paralâmico" Herbert Viana, como um outro mestre das letras musicadas de nosso tempo. Concordo com ele.
Para melhor exemplificar as características destes poetas oitentistas, propus imaginarmos uma viagem de trem em que, além de nós dois, estariam Herbert, Renato e o nosso exagerado.
Todos em vagões separados e puxados por uma locomotiva que soltaria a sua fumaça pelos ares caminho afora.
Imaginei que, após a partida, Herbert se acomodaria numa poltrona confortável junto à janela, e que de posse de caderno e lápis, anotaria suas observações sobre a paisagem.
Falaria dos alagados, tenderia à lua, e fotografaria com palavras toda as visualizações
e seus personagens, percebidos nos rápidos flashs de vida que corriam diante de seus olhos.
Um excelente retratista.
Ao mesmo tempo, Renato Russo estaria quieto e sozinho numa cabine particular,
e escreveria sobre os medos que sentia sobre o que encontraria na próxima estação.
De como gostaria que a próxima parada fosse marcada pela compreensão entre os homens,
e que o amor pudesse vencer os monstros e as angústias que assombravam as pessoas,
que não percebiam a grandiosidade de uma gota d'água ou de um grão de areia.
Ele, com certeza, pediria um mundo melhor , a começar por pais e filhos
mais compreensíveis e compreensivos.
Neste momento, percebo que a velocidade do trem aumenta, e Cazuza grita e gargalha já abraçado ao maquinista, lhe contando os absurdos da noite na última estação,
e falando dos personagens imaginários que surgiam
nas formas da fumaça liberada pela locomotiva,
e entre mais uma dose e outra, diria que o dia também morre, e é lindo,
como eram lindos os tais moinhos de vento.
Na adega, intermináveis segundos separam a história da viagem do comentário seguinte.
Eu e Ricardo estamos com os olhos marejados, e ante ao ultimo bolinho de bacalhau,
percebemos o quanto nossa geração ficou mutilada dessas linhas geniais.
Tenho o impulso contido de gritar ao garçom:
- Um vinho do Porto e um novo poeta por favor!

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Quitéria Chagas, esse é o nome dela!



A cerca de um ano postei em meu antigo blog, uma crônica sobre a madrinha da bateria da
escola de samba Império Serrano.
Quitéria Chagas... esse é seu nome!
Naquela época eu muito pouco sabia sobre ela. Eu estava completando quarenta anos de idade
e me encotrava simplesmente encantado com aquela morena de tirar o fôlego.
Não que hoje eu esteja menos encantado, muito pelo contrário, pois Quitéria é uma tsunami de encantamentos para pobres mortais como eu.
Por conta de meu trabalho e de uma comunidade no orkut, acabei a conhecendo um pouco mais,
bem como a sua família e seus trabalhos.
Aquele sorriso deslumbrante está mais próximo desse poeta, é verdade,
mas não diminui em nada a admiração que nutro por essa moça que além de bela e talentosa, tem uma alma linda.
Nesse meu blog você pode encontrar uma poesia que fiz para Quitéria Chagas,
chamada "A Cada Maio" e que está nesse link:
http://andersonjulio.blogspot.com/2006/05/cada-maio-anderson-julio.html
Hoje passei por um outdoor na cidade e a ví... linda!
Quase bati o carro... parei o transito.. me xingaram... mas valeu a pena!
Quitéria Chagas hoje está fazendo seu primeiro trabalho como atriz.
Ela é a "Dorinha" na novela das oito, Página da Vida... linda que só!
Então, por causa desse trânsito louco que mal permite que um poeta admire sua musa,
republico a minha crônica de um ano atrás, chamada...
"Quitéria Chagas e o meu carnaval quarentão"
Um beijo e um queijo!


"Quitéria Chagas e o meu carnaval quarentão"

Pois bem, como não tem mais jeito, resolvi relaxar em relação a ser um quarentão, e pela primeira vez, me dedicar integralmente a folia de mômo aqui no Rio de Janeiro.
Desde o inicio do mês tenho feito programas carnavalescos.
Comecei pelas apresentações da GRES Vila Isabel (aquela do bairro do Noel!)
no shopping Nova América e dei largada no meu reinado momesco.
Na quinta dia 23/2, fui ao ensaio geral do Império Serrano, em Madureira,
e como sempre, fui absolutamente bem tratado.
Aliás alí, eles sempre tratam este poeta que vos escreve como um rei.
E aquela bateria gente? O que é aquilo?
Olha tenho andado por ai mas nenhuma bateria me traz o impulso de literalmente "me acabar" como aquela do Império Serrano.
Como se não bastasse ser bem tratado, as pessoas serem tão simpáticas e alegres,
aquela bateria nota 1000, o reencontro de tantos velhos amigos,
o Império Serrano ainda tem uma riqueza deslumbrante que atende pelo nome de...
Quitéria Chagas.
A madrinha de bateria da escola madureirense é simplesmente divinal,
colossal, admirável, irresistível, contagiante,
e tenho a certeza que todos estes adjetivos são poucos para traduzir aquela moça.
Ela definitivamente não faz o tipo "gostosona" de outras madrinhas de bateria do Rio.
Nada tem de parecido com Luanas Piovanis, Carois Castros, Vivianes Araújos,
Lumas de Oliveiras, ou Adrianas Bombons.
Quitéria simplesmente é o que há, com aquele sorriso devastador
e olhar que "vê" os mais secretos cantos da nossa alma.
Ao chegar, devidamente cercada de seguranças,
passou pelos camarotes distribuidos acenos e olhares de simpatia.
No camarote do presidente, ainda comentei com meu amigo Osmar de Paula:
- De que planeta será que ela veio?
Depois de devidamente anunciada, ela seguiu até o espaço destinado a bateria da escola,
e começou aquilo que este pobre poeta classifica como
o "Espetáculo Ritual da Magia de Luz com Requintes de Crueldade".
À frente da bateria, Quitéria consegue inexplicavelmente crescer e brilhar ainda mais,
por mais que isso pareça improvável ou até impossível.
Cada vez que ela abre seus braços parece que os Deuses do Olimpo dão as mãos
e uma luminosidade inacreditável exala daquela mulher que mesmo sem trajes apelativos, prende a atenção de homens, mulheres, crianças, etc.
Ela é simplesmente divina.
Alterna momentos divinais, quando por vezes se parece com uma Deusa Hindu,
outras uma dançarina árabe, hora uma índia, hora a mãe oxum a se banhar na cachoeira.
Seus braços parecem estender até o infinito,
e serem os elos de ligação com o astral superior, com o cosmo, com a fonte da vida...
por fim... ela é mesmo divinal!
A conheci no ano passado quando o Império Serrano
recebeu uma comitiva de Ministros dos Esportes dos países da América Latina.
Naquela oportunidade, lembro que ela quebrou o salto de sua sandália,
e ofereceu aquele pé lindo a um passista para que lhe tirasse o calçado
e lhe deixasse sambar descalça.
Recordo que o ministro Agnelo Queiróz, olhava a cena como que petrificado,
tal a doçura dos movimentos de Quitéria.
Tenho certeza que o ministro gostaria de tirar aquela sandália dos pés da musa....
Ah... e eu também!
Mas voltando ao presente, na última quinta feira,
depois de brindar toda a família imperiana com sua magia e graça,
Quitéria foi aos camarotes abraçar a cada convidado da escola.
Ao me reencontrar, abraçou-me com graciosidade, comentou o fato
de eu ter cortado meus longos cabelos (agora sou carequinha!)
e falou de sua ansiedade para a hora do desfile.
Tiramos algumas fotos, e depois ela se foi, a encantar todos os outros camarotes.
Fiquei parado, inerte e mudo por algum tempo.
Já de madrugada, ao sair da quadra imperiana, percebo que ela está ao meu lado,
também indo embora.
Um táxi a esperava de portas abertas.
Ela entra e ainda tem tempo de dizer "tchau" e dar adeus a esse pobre poeta...
Lá foi Quitéria de volta ao seu pantheon sagrado.
Fui para casa com uma estranha intuição que um dia escreverei um romance chamado "O poeta e a Passista"...
No dia seguinte, sentado a beira da cama penso em quantas linhas já escrevi para
Luanas Piovanis, Carois Castros, etc, e me pergunto:
O que fazer desta vida sem Quitéria Chagas?

(Publicado em 25/02/2006)

sábado, 4 de novembro de 2006

Sobre Leonardo Mendonça


(Anderson Julio e Leonardo Mendonça - Foto: Robson Bolsoni)

Estes dias estava a lembrar de uma frase do amigo escritor
e autor teatral Leonardo Mendonça que disse:
"Se pensássemos na vida como uma carga de caneta,
deixaríamos algo de bom antes de começar a falhar".
Confesso que tenho pensado muito nisso ultimamente.
Quanto a Leonardo Mendonça, por conta do lançamento de seu livro

"A Chuva de Ontem" no mercado latino, atualmente passa uma temporada na Argentina.
Vale a pena também conferir o seu livro de estréia "Urro" de 2000,

um balaio de contos e fragmentos interessantíssimos.

Abaixo, segue um de seus poemas que mais aprecio.

Virando Ponto (Leonardo Mendonça)

Lá estamos nós - procurando.
Em fila.
Acordados.
Cansados.
Tapando sol - esperando.

Pra lembrar quem somos procuramos medalhas pra pendurar no pescoço.
Tiramos foto só-rindo.
Mudamos o penteado.

Pra dormir, viramos de bruço.
Mentimos.
Mudamos de lado.

Pra saber realmente que é tem que virar do avesso.
Tem que virar verso.
Palavra.
Ponto.

Caminhar, sem esperar.
Caminar, sem promesas.
E se deixar molhar,
debaixo da chuva de milagres.

Esquecido na Gaveta... Poema: Grumari

Estes dias futucando uma velha gaveta encontrei este pequeno poema escrito no verão de 2005, e que fala daquele pedacinho do paraíso perdido no Rio de Janeiro...

Grumari (Anderson Julio)

Grumari...
te vi alí...
meio que virginal
e o anormal que sou
ainda reclama da vida
teme a morte
ou o que o valha...
Navalha perfeita
da cidade desfeita...
O que ainda resta
de maravilhoso no Rio
Está em tí...
grumari!
Fique ai...
Não saia daí...
Fique assim quietinho...
Que ninguém há de te molestar...
Mas se o fizerem
me chame...
me grite...
que eu volto aqui...
Grumari!

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Eu, Priscila Andrade, Robson Bolsoni e a doçura do caos



Há algum tempo eu e a poetisa Priscila Andrade planejavamos nos encontrar outra vez.
Assim poderíamos destilar venenos, exorcizar demônios e até falar de poesia - a contragosto.
Mas sempre arrumávamos uma desculpa e o encontro não acontecia.
Ontem porém, resolvemos priorizar o caos e marcamos o famigerado reencontro no centro do Rio, mais precisamente ali perto do Cine Odeon, na Cinelândia.
De comum acordo optamos por levar uma outra pessoa: o cineasta e fotógrafo Robson Bolsoni.
Assim, confortavelmente acomodada num bar sofrível, essa tríade bradou e gargalhou por horas sobre poesia (ninguém é perfeito!), sexo, amor, traição e dinheiro.
Robson Bolsoni é um jovem corajoso, em ebulição, e segundo Priscila, muito "gostosinho". Priscila Andrade é uma mulher muito talentosa, direta, politicamente incorreta e interessante.
Ela lembra que a pouco tempo, nós fomos "acusados" de termos um romance, o que nunca ocorreu! Pelo menos ninguém lembra disso ter ocorrido! Uma calúnia!! rs...
A conversa ia fluindo razoavelmente bem, entre pasteizinhos de conteúdo impublicável, baratas simpáticas, conhaques honestos, chopp de caráter discutível e salutares cervejas "Caracú"!
Sim, cerveja "Caracú", porque nosso jovem cineasta é um homem muito macho, pô!
E macho que é macho mesmo, toma "Caracú" com vidro!
Pois é, e nosso amigo cineasta e gostosinho assim o fez. Ao abrir a garrafa de cerveja o garçon não percebe que o gargalo quebrou e que um pedaço de vidro caiu no copo de Bolsoni.
Ele bebe, mastiga o objeto estranho, e diz estupefato: Cacete olha isso!
A boca sangra. O garçon diz: "É... de vez em quando isso acontece... (?!) ...
Simplesmente surreal!
Priscila num ato quase heróico entrega seu copo de conhaque e berra:
- Toma tudo, anda! Toma tudo e agora.
Pensei: Cicatrizante? Anestésico? Anti-bactericida?Anti- acido? Anti-coagulante? Hummm...
Bom, muito do que se bebe hoje em dia, no início era usado como remédio, vide bula, quer dizer, vide a historia do gim.
Cortou? Sangrou? Já sabe: "Caracú" com "Domeq"!
Eis que de uma hora para a outra uma sirene começa a soar alto dentro do bar.
Percebemos então que todas as mesas ao redor foram guardadas, o chão varrido, e os funcionários do bar de "mãos nas cadeiras" nos olhavam como que perguntassem:
- Os artistas aí vão demorar muito tempo para irem embora?
Pensei em falar com o gerente, mas não deu tempo, pois Priscila Andrade em outro rompante chama até nossa mesa o quase simpático "Otenildes" (sim, o nome é esse mesmo!).
- Tá vendo este conhaque? Só vou embora depois de acabar o último gole - brada ela, ávida por seleuma de maior proporção!
Coitado do Otenildes. Cansado de sua árdua tarefa de trabalhar naquele dia de finados, ainda tem que "aturar" esses três insuportáveis que não têm nada mais o que fazer!
Depois de muito resmungar decidimos ir embora. Destino: a casa de Priscila.
No meio do caminho resolvemos não ir, pois no dia seguinte bem cedo, eu e Robson teríamos que dar continuidade ao projeto "Quadra a Quadro".
Priscila se rebela, e nos chama de "bundões".
em retaliação nos mandamos para a Lapa afim de desova-la.
Entre abraços e xingamentos nos despedimos carinhosamente, e marcamos de nunca mais nos encontrar, pelo menos naquele barzinho execrável!
Priscila fica na Lapa, eu e Bolsoni como sempre nos perdemos e fomos parar em Copacabana.
Copacabana, Ipanema, Leblon, Barra, etc. Aí já viu...
Outras paradas, outras histórias, outras bizarrices e outras poesias.
Só faltou Priscila Andrade, mas ela deve ter se divertido também.
Mas isso você talvez só saiba lá no blog dela
http://dedodemoca.blogspot.com